Mariana Capeletti

Sobre o véu da Guerrilha

O Brasil sofreu em 1964 um golpe militar que resultaria em 20 anos de censura e ceifando as liberdades individuais e coletivas inerentes à Democracia.
Entre 1970 e 1974, ocorreu na Região Norte do país a Guerrilha do Araguaia, um movimento que buscava combater o Regime Militar e semear a revolução a partir do campo. Tal movimento foi fortemente reprimido pelas Forças Armadas Brasileiras deixando um total de aproximadamente 79 mortos/desaparecidos e apenas 20 sobreviventes.

Mas não foram apenas soldados militares e guerrilheiros revolucionários que sofreram os efeitos deste conflito. Durante a caçada aos guerrilheiros, as Forças Armadas adotaram a tática de utilizar-se da população local para desbravar o território onde se encontravam os guerrilheiros, submetendo moradores e camponeses da região à tortura, trabalho forçado não remunerado, destruição de suas residências, incêndio de suas lavouras, entre outras práticas humanamente abomináveis. Entre estes camponeses estão mulheres que sofreram com estupro e a morte de maridos e filhos.

Este que é um dos momentos mais representativos do período ditatorial brasileiro permaneceu em completa penumbra por mais de duas décadas, sendo acaçapado tanto pelas Forças Armadas quanto pelo Partido Comunista. Walter Benjamin diz que é preciso contar a história a partir dos oprimidos e perdedores, e é nesse viés que se pauta projeto Sobre o véu da Guerrilha. São fotografias que levam até os camponeses do Araguaia, que sofreram cruelmente as consequências da guerrilha. Dentre as diversas formas de refletir sobre memórias de sofrimento e lutar pela construção de uma memória que não transforme esse passado em um eufemismo, a fotografia aparece tanto como ferramenta para pensar sobre luto, memória e identidade.