A série Noivas – Aluguel e Venda, realizada em 2004 é composta por dez autorretratos, todos realizados na rua São Caetano em São Paulo, conhecida como “a rua das noivas” por ser praticamente toda ela voltada para este tipo de comércio. Visitei vários estabelecimentos onde solicitava o empréstimo de um vestido de suas coleções para me fotografar na própria loja. Uma vez aceita a proposta, um fundo infinito de tecido azul era montado em frente a um dos grandes espelhos que todas as lojas possuem, e, com uma câmera presa à cabeça com flash acionado, fotografava minha imagem refletida neste. O disparo do flash refletido no espelho cria um reflexo que elimina o rosto, retirando a identidade dos autorretratos.
A série é uma discussão sobre o arquétipo da noiva vestida para o ritual do casamento, símbolo de realização e felicidade associados ao universo feminino. A construção e comercialização deste ideal trazido pelo casamento tem no vestido seu grande símbolo. A indumentária, como um uniforme, ao mesmo tempo que se pretende única e pessoal, normatiza um padrão que nos remete às fábulas, à nobreza, aos reinos distantes e fantasias que terminam com a promessa da felicidade para sempre. A efemeridade desta ilusão poderia ser comparada à vida do vestido e é abordada nesta série na forma como as fotos são apresentadas. Ao invés de criar impressões de grande durabilidade em papéis fineart e ricamente emolduradas como as lembranças congeladas nos álbuns de casamento, as imagens são impressas em papéis utilizados para a propaganda barata e descartável, de cartazes de rua. Preferencialmente são coladas em áreas externas, com visibilidade para a rua, reafirmando o seu caráter comercial de massa, visando atingir o maior número de pessoas ao mesmo tempo que ficam sujeitas à ação das intempéries, para sofrerem desgaste e denotarem sua impermanência. Ao final, como aponta Eder Chiodetto: “resta um símbolo desgastado, rudimentos do sonho feminino, expostos numa vitrine para aluguel ou venda”.